Roney Rodrigues
Um vendaval varreu Ouro Fino.
E não era um vendaval qualquer. Era dos grandes. Nunca os moradores viram ventos tão fortes e intensos. Uma noite inteira foi o suficiente para arrancar telhados e telhas e desalojar dez famílias em Ouro Fino, um vilarejo paupérrimo.
No ápice das rajadas dos ventos, os homens seguravam literalmente as paredes de suas casas. Apoiavam o dorso e os troncos contra as paredes feitas de tijolos de barracos e rebocadas também uma fina massa de terra para que elas não caíssem. As mulheres tentavam abrigar os filhos de alguma forma, se protegerem das telhas que voam junto com os ventos e amenizar os efeitos da chuva sobre os ombros.
Depois disso, 16 casas foram construídas, no estilo Cohab. Mas poucas famílias que ficaram desalojadas conseguiram ser beneficiadas. Josefina Almeida de Jesus, 24, explica o porque.
“As casinhas são todas por indicação. Um vereador pegou seis e outro também. O prefeito ficou com cinco. Aí eles só dão pra quem puxa o saco deles e faz campanha”, reclama.
E a casa de Maria Aparecida Lima Xavier, 46, teve que ser habitada por mais 12 pessoas. O marido não trabalha, tem artrose. “As radiografias estão aqui se o senhor quiser ver... fez tudinho os exames em Governador Valadares”, diz dona Maria, segurando um grande envelope.
“O senhor bem vê que quem tem um calibre assim não ta bem”, diz o marido de Dona Maria, Florisberto Xavier, 58. Ele está há três anos sem trabalhar e só vive com 152 reais da Bolsa Família. “Não que tenha trabalho por aqui... Mas eu queria estar saudável pra ir pra roça. “Nós vive com a ajuda dos filhos de Deus. E alguns olham pra nós e acham que eu não quero trabalhar”.
Florisberto chora. Tenta disfarçar, escondendo os olhos com sua mão áspera. Dona Maria também chora. “A pior coisa que tem no mundo éter filho e não ter o que dar a ele de comer”.
A maioria dos moradores do vilarejo não tem trabalho. Os poucos que conseguem são bicos esparsos, dois ou três dias da semana, em alguma roça, capinando ou plantando feijão. Quando o caminhão estaciona com as cestas básicas, a “feirinha” como eles dizem, uma multidão se aglomera. “Me dá uma feirinha, seu moço”. “Não dá pra ela não, ela é aposentada, eu só tenho um Bolsa Família...”. “Seu moço, o meu menino ta doente e eu não tenho o que comer”.
Encontro com Rosa Barbosa da Silva Santos, 36, que acabou de ganhar roupas, cesta básica e presentes para os seus cinco filhos. Ela vai para sua casa com um grande sorriso. “Olha Renildo, olha, ganhei. Ano passado a gente não conseguiu esse ano Deus abençoou”, diz para seu marido.
- A feirinha vai ajudar, Dona Rosa?”, pergunto, entrando em sua casa.
- O, se vai... vai ajudar e muito!”, diz.
Em sua dispensa tem poucas coisas. Apenas uma latinha com café em pó, um pouco de feijão e um saquinho de farinha. Ela busca alguns galhos num carrinho de mão fora da sua casa para acender o fogão a lenha de sua casa.
Ela suspira e confidencia.
- Hoje não adiantava nem acender o fogão”.
Porra, lembrei do "As Vinhas da Ira"-esse o nome?, cara. Parabéns pelo texto e pela iniciativa.
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