O caminhão parou. Seu Ailton José da Silva corre. Ele é senhor franzino com a pele curtida pelo sol, rosto marcado pela idade e pelo labor, e que trabalha com a esposa vendendo pequi às margens da rodovia Pato de Minas-Montes Claros.
“É aqui! É aqui”, diz
Chinelo, panetone e cesta básica são entregues. Ele estica o braço para nos mostrar, com algumas feridas abertas, outras já em processo de cicatrizamento.
“Óia, moço, as queimaduras do meu braço. Dói dói bastante”, se lamenta. “Muito obrigado pela ajuda, muito obrigado”.
Seu Ailton sorri, tira do bolso um cigarro improvisado que parece ter mais papel que fumo. Acende.
“O senhor sabia que a gente passaria por aqui, seu Ailton?”, perguntamos.
“Sabia, sabia, Deus lhes pague. É o caminhão do baú”, e solta um sorriso largo.
“Minha mulher vai adorar isso aqui”, diz ao receber uma sombrinha. “Ela vivia me falando para pegar a aquelas chapéus largos”, e gesticula como se fosse um sombrero mexicano. “Ela num vai mais pegar Sol”.
Outro senhor, tronco largo, barbas embranquecidas pela idade e que também vende pequis na estrada, se aproxima para receber ajuda. Ele morra em um barracão próximo, diz que os “homis” queriam tirá-lo de lá, mas que ele não sairia, pagava direitinho a conta de luz e, portanto, continuaria no barracão. “Obrigado pela ajuda, Deus é grande, Deus lhe pague”, diz, se agarrando na cesta básica e na sacola de roupas.
É hora de prosseguir viagem. Apertos de mão e votos de bom Natal.
O senhor fixa os olhos em nós. Fita-nos intensamente. Seus olhos ameaçam umedecer, ele desvia o olhar para disfarçar os sentimentos, mas uma lagrima dos cantos dos olhos denuncia seus sentimentos.
“Vai com Deus, meu filho”.
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