Um homem que pedalava vagarosamente sua bicicleta, vestindo camisa social e calça, para. Pensa.
“Alguma família que precisa de ajuda...”, e olha para cima, como quem mapeia as lembranças.
“Olhe, é que sou evangélico e nós não esperamos ninguém chegar por aqui para ajudar, tentamos nós mesmos fazer alguma coisa”.
“Mas não tem nenhuma família que precise?”, insistimos.
“O senhor segue na rodovia, faz o trevo e desce até a rodoviária. De lá o senhor vai ver uma cemitério e atrás do cemitério um morro. Lá tem muita gente que precisa de ajuda. Muita gente mesmo”.
“Mas tem perigo de a gente entrar lá?”
“Não. ‘Morro’ aqui não é morro igual em São Paulo. São só casinhas bem pobres”, diz, prosseguindo, ainda vagarosamente, em sua bicicleta.
Subindo o ‘morro’, as pessoas olham desconfiadas. Provelmente se perguntam o que esses “forasteiros” fazem por lá. O local é Francisco Sá, uma cidade em que a maioria não tem um emprego fixo. Uma antiga empresa, que tinha lavouras de alho, fechou as portas. A única opção de trabalho para os moradores é o garimpo, que já anda esgotado. Logo a desconfiança a nossa presença vira afeição.
“Seu moço, seu moço”, insistem as crianças. “Uma balinha, me dá mais uma balinha, por favor”, diz ao receber os doces.
Alguns escondem os doces em uma mão e insistem:
“Seu moço, eu ainda não ganhei nada. Me dá um lanchinho”.
“Olha, aquele senhor precisa bastante. É muito necessitado!”.
O tal senhor é Seu Moisés. Ele está sentado na porta as sua casa. Quando entregamos um saco com roupas, ele agarra o saco, dá viva e saúda a generosidade.
“Minha Nossa Senhora Aparecida, muito obrigado. Deus proteja vocês. Quer um cafezinho? Chama todo mundo para aqui dentro, vamos tomar um cafezinho. Ô, minha Nossa Senhora Aparecida, muito obrigado. Muito obrigado”.
Abre um sorriso largo. Está semi-banguelo. E feliz.
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