quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Trilhas da Caatinga

Renato Olívio



Antes de deixarmos a cidade de Rubelita-MG, logo imaginávamos que o caminho a ser percorrido não era nada fácil. Estradas de difícil acesso, sol a pino que somente o Vale do Jequitinhonha pode proporcionar. No entanto, todos nós sabíamos que tínhamos uma missão: levar um pouco de alegria para pessoas que nem sequer tem o que comer. O que beber é também uma longa história.

“Ih rapaz, daqui não passa o carro não. Vamos ter que ir a pé.”

Valdivino Cardoso, 16 anos, nos acompanhou durante todo o trajeto, como um verdadeiro guia. A trilha da caatinga mineira é bem diferente daquela que estamos habituados e todos os cuidados necessários deviam ser tomados. A camionete, que nos levava ao riacho, foi abandonada, como muitas daquelas pessoas que viviam naquele morro distante de Rubelita-MG.

“A casa da Cida é muito longe, menino. Não dá pra ir a pé até lá não.”

Um dos moradores daquele chapadão já nos alertava diante das dificuldades encontradas. Um telefonema, feito por uma das moradores, chamava dona Cida para a entrega das “feirinhas”, que seriam destinadas aos moradores daquele local. Como o acesso até Cida era complicado, restava-nos tentar dona Piedade, que também nos renderia muita história.

O sol das três da tarde castigava todos nós. A subida não era fácil. Todos ofegantes e cansados, mas a vontade de chegar ao destino era muito maior. Quando avistamos a casa de dona Piedade, percebemos que estávamos no lugar certo.

“Entra, gente. Podem pegar um pouco d’água, vocês tão cansados.”

A receptividade da família era impressionante, assim como as condições em que viviam. Água escassa, alimentos em falta. Camas, televisão, fogão e geladeira são artigos de luxo inacessíveis a todos eles. Um copo d’água, cedidos a nós, passava a ser um peso na consciência adquirido por todos. Para conseguir água potável, Juvercino de Oliveira, marido de Dona Piedade, andava um dia inteiro com seu burrinho emprestado, carregando água cedida por um fazendeiro. Aquela água que eles nos davam podia-lhes fazer falta, mas eles faziam questão de nos oferecer.

“Vocês vieram de São Paulo até aqui? Gente do céu, é muito longe. Vocês vão com Deus e que ele lhes dê saúde e tudo de bom.”



A graditão de Seu Juvercino era impagável. Era hora de partir. Um longo caminho havia ainda a ser percorrido. Milhares de famílias ainda mereciam a nossa atenção.

4 comentários:

  1. Realmente emocionante todos esses relatos. Díficil conter as lágrimas lendo tudo isso. Parabéns por participarem de algo tão bonito. Para as proximas vezes, se precisarem de ajuda, seria uma honra!
    Abraço.

    Caio Casagrande

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  2. po, como ninguém me convidou pra fazer isso? também quero, to aqui devorando os posts. besos aos dois!

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. muito lindo o que vocês tão fazendo! parabéns meninos..

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