segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Amigos do Jequiti na TV TEM

O trabalaho do "Amigos do Jequiti", que começou há quase duas décadas, começou a colher frutos maiores nos anos de 2009 e 2010. As seguintes matérias, publicadas na TV TEM de São José do Rio Preto nos respectivos anos, ajudaram muito na divulgação do projeto e na captação de doações, que chegaram a mais de 20 toneladas em 2010.

Confira as matérias especiais, na reportagem de Daniela Golfieri.

2009:



2010:

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Novidades no blog

Como todos podem notar, acrescentamos no lado direito da nossa tela dois links com fotos da nossa visita ao Vale do Jequitinhonha. Ainda temos muitas fotos para serem postadas, mas fiquem com esse pequeno "aperitivo".

Em breve, mais notícias sobre os "Amigos do Jequiti" e sua atuação no ano de 2011.

Um feliz ano novo a todos, repleto de saúde, realizações e solidariedade.

A equipe.

domingo, 26 de dezembro de 2010

O padre e o punhal

Roney Rodrigues



“Padre, eu sei que é difícil falar para o senhor, mas tenho que dizer: metade da população de Berilo tem mal de Chagas e depois que passarem dos 40 anos provavelmente morrerão”.

O pesquisador era colombiano. Estava se pós-graduando no Brasil e foi para Berilo-MG estudar a infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. A doença é transmitida por insetos, conhecidos como barbeiros, e é freqüente em regiões carentes. No início aparece apenas infecção no local da picada. À medida que a doença progride, os sintomas tornam-se crônicos e podem levar a insuficiência cardíaca.

Na pequena pracinha de Berilo, com suas ruas de chão batido, muitas pessoas que caminhavam caíam. “É chagas”, diziam os moradores para não assustar algum desinformado que passasse por ali. O pesquisador estava estudando os efeitos da doença e como tratá-la. E o padre, seu amigo e que o auxiliava com o idioma devido seu português precário, estava em sua frente e ele dando a pior notícia que ele poderia ouvir.

“Você sabe o que é ficar noites e noites sem dormir, apenas chorando e rezando e chorando e pesando: meu Deus, todas essas pessoas vão morrer! Eu entrei em depressão”, me diz o padre.

José Nuno de Castro e Silva, 72, é português. Veio há 36 anos para Brasil para trabalhar no Vale do Jequitinhonha. Pelo tempo de brasilidade, se diz no direito de dizer que é brasileiro e ponto. Chegou para ser o pároco de uma região de mais de 1.600 quilômetros quadrados. Para ir de comunidade em comunidade “rezar missa”, ele subia no lombo de um burrinho. “Já tenho muito experiência. Sei montar a galope muito bem”, se orgulha. “Aí eu vi o sofrimento do povo. Eu vivia com eles, comia o que eles comiam, bebia água com urina e girinos e sofria muito de disenteria. Eu tomava banho numa bacia depois que a mãe e mais todos os filhos tomava”, diz, lembro das dificuldades dos primeiros tempos na região.

Padre José durante todo esse tempo deu aulas de higiene e gastronomia, preparou parteiras com material da Alemanha, conseguiu uma máquina com verba holandesa para abrir reservatórios no Sertão para reter águas da chuva, levou água encanada para várias comunidades e só batizava quando crianças vacinadas. E para resolver o problema do Mal de Chagas, entrou em contato com a Universidade Federal de Ouro Preto para realizar estudos de contenção da doença. Deu certo e hoje a doença já não é um mal fatal na cidade.

“O mais importante de tudo isso não é uma esmolinha ou qualquer ação, mas dizer a toda essa população que eles são gente!”, diz. “O Vale do Jequitinhonha vai ser um punhal que vai ser cravado no coração de todos esses políticos quando eles chegarem lá em cima. O Aécio para mim tem o valor de estrume. Ele ganha pouco dinheiro? E nós não temos estradas, nossa população é miserável e passamos por todos esses problemas. Eu não suporto autoridade falando na televisão que vai fazer algo pelo Vale do Jequitinhonha sem dar vontade de vomitar”.

sábado, 25 de dezembro de 2010

O poder que eu não quero ter

Renato Olívio

As terras de Pasmado-MG representam tudo o que eu sempre soube a respeito de sentido literal. Quem visita essas terras, sai com uma sensação de horror, tristeza, incapacidade e impotência. Pasmado. Quem somos nós para decidir quem merece receber uma feirinha, uma trouxa de roupas, um brinquedo, ou até mesmo potinhos plásticos? Quem somos nós pra decidir quem será agraciado na véspera do Natal? Este é um poder que não quero ter. Decidir quem vai ter o que comer nos próximos dias, e ao mesmo tempo decidir quem não vai. Não somos deuses. Não temos esse poder.



No final das contas, apesar de tudo, saímos felizes dessa terra sabendo que fizemos o que estava ao nosso alcance e por conhecer o que é um verdadeiro pagador de promessas. Carregar uma cruz, por mais do que três anos até então, nunca passou pela minha cabeça. A força de vontade de um verdadeiro pagador de promessas não tem limites.

Presente antecipado

Renato Olívio

Por um momento me lembrei do trabalho que realizei em um Lar para Desamparados durante as minhas férias de julho. Foi uma experiência incrível, assim como a que presenciei no dia 23 de dezembro de 2010. A cidade de Araçuaí-MG, no berço do Vale do Jequitinhonha, me trouxe de presente o sorriso de mais de 49 crianças atendidas pelo projeto Sabor Solidário, mantido por uma irmã missionária. Meu presente de Natal antecipado, por poder abraçar e dar carinho a crianças abandonadas pelos pais. Presente de Natal como o de seu Frederico, que com certeza lembrará do meu nome na minha próxima visita. Ele sempre lembra.



Drogas, prostituição, fome e miséria: desgraças que assolam essa terra tão castigada.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Trilhas da Caatinga

Renato Olívio



Antes de deixarmos a cidade de Rubelita-MG, logo imaginávamos que o caminho a ser percorrido não era nada fácil. Estradas de difícil acesso, sol a pino que somente o Vale do Jequitinhonha pode proporcionar. No entanto, todos nós sabíamos que tínhamos uma missão: levar um pouco de alegria para pessoas que nem sequer tem o que comer. O que beber é também uma longa história.

“Ih rapaz, daqui não passa o carro não. Vamos ter que ir a pé.”

Valdivino Cardoso, 16 anos, nos acompanhou durante todo o trajeto, como um verdadeiro guia. A trilha da caatinga mineira é bem diferente daquela que estamos habituados e todos os cuidados necessários deviam ser tomados. A camionete, que nos levava ao riacho, foi abandonada, como muitas daquelas pessoas que viviam naquele morro distante de Rubelita-MG.

“A casa da Cida é muito longe, menino. Não dá pra ir a pé até lá não.”

Um dos moradores daquele chapadão já nos alertava diante das dificuldades encontradas. Um telefonema, feito por uma das moradores, chamava dona Cida para a entrega das “feirinhas”, que seriam destinadas aos moradores daquele local. Como o acesso até Cida era complicado, restava-nos tentar dona Piedade, que também nos renderia muita história.

O sol das três da tarde castigava todos nós. A subida não era fácil. Todos ofegantes e cansados, mas a vontade de chegar ao destino era muito maior. Quando avistamos a casa de dona Piedade, percebemos que estávamos no lugar certo.

“Entra, gente. Podem pegar um pouco d’água, vocês tão cansados.”

A receptividade da família era impressionante, assim como as condições em que viviam. Água escassa, alimentos em falta. Camas, televisão, fogão e geladeira são artigos de luxo inacessíveis a todos eles. Um copo d’água, cedidos a nós, passava a ser um peso na consciência adquirido por todos. Para conseguir água potável, Juvercino de Oliveira, marido de Dona Piedade, andava um dia inteiro com seu burrinho emprestado, carregando água cedida por um fazendeiro. Aquela água que eles nos davam podia-lhes fazer falta, mas eles faziam questão de nos oferecer.

“Vocês vieram de São Paulo até aqui? Gente do céu, é muito longe. Vocês vão com Deus e que ele lhes dê saúde e tudo de bom.”



A graditão de Seu Juvercino era impagável. Era hora de partir. Um longo caminho havia ainda a ser percorrido. Milhares de famílias ainda mereciam a nossa atenção.

O Natal chegou, Giovani

Renato Olívio

Nossa segunda visita na cidade de Rubelita-MG nos dava a dimensão da necessidade daquele povo. Alimentos, brinquedos e roupas, distribuídos em plena praça pública no primeiro dia na cidade, agora mereciam um destino bem mais específico. Um verdadeiro trabalho investigativo, buscando a família que mais precisava e aquela que fosse a premiada doa dia. Infelizmente, não é possível atender a todos.

“Seu moço, me vê um brinquedo? Me dá uma bonequinha.”

A distribuição de brinquedos fazia a festa da garotada do morro de Rubelita. Além disso, enormes trouxas de roupas eram repartidas pelas famílias e desapareciam em questão de segundos, impressionando a todos nós que estávamos distribuindo os kits. Já as “feirinhas”, contendo alimentos de necessidade básica, mereciam atenção especial. Todos que distribuíam oravam para Deus para que fossem destinadas aos que definitivamente precisavam.

Uma dos barracos visitadas chamava atenção. Dona Jacina Maria de Souza, viúva e mãe de uma filha e dois netos, vive em condições de extrema miséria. Seu cardápio diário? Mini-porções de farinha com gordura, dosados milimetricamente. Em dias de escassez, ela cede sua parte aos netos, chegando a ficar quatro dias sem ter o que comer. Todos eles estão acostumados à fome, assim como estamos acostumados a ter as nossas duas refeições diárias.

“O Natal chegou, vó? É o Natal?”

Giovani, neto de Dona Jacina, apontava a cesta com as “feirinhas” e roupas doadas pelo grupo na saída. O espírito natalino procura trazer presentes para as pessoas certas, aquelas que realmente merecem. Saímos da casa de dona Jacinta tranqüilos. Destino melhor, provavelmente impossível.